Sertão poderia ter
água da cachoeira
A falta d'água que assola o sertão contrasta com a potência da adutora do DNOCS
Raimundo Marinho (*)
A população sertaneja de Livramento de Nossa Senhora sofre novamente com o repetido fenômeno da seca, mais uma vez mendiga dos famigerados caminhões-pipas. A seca, por ser natural, pode alcançar status de inexorabilidade, mas os caminhões-pipas são apenas famigerados, meio despudorado e fácil de angariar votos, ao longo de anos, entre os que têm sede. A cada seca, tão freqüente em nosso meio, verifica-se verdadeira exploração desse estado de necessidade do povo, por exploradores contaminados pela inação e pela incompetência, aos quais parece não interessar uma solução definitiva do problema.
A natureza deu a seca, de forma implacável até, mas também abriu janelas de solução. A própria topografia do sertão abre espaços para barramentos, que reteriam água nos períodos chuvosos para uso na estiagem. Também existe água em abundância na Serra das Almas e na cachoeira de Livramento, cuja vazão foi regularizada pela Barragem Luiz Vieira. Essa água poderia ser facilmente canalizada até o sertão. São menos de 60 quilômetros , um quase nada, se considerado que resolveria um problema secular e tão grave. E mais, resgataria a dignidade da maioria da nossa população.
A evolução tecnológica hoje experimentada torna tal obra uma insignificância, mas que imortalizaria as gestões autoras. Basta que haja vontade política, bom planejamento e firme determinação, ou, talvez, competência. Como resta evidente, nada disso existiu em relação às administrações de anos recentes. Não adianta nos recolhermos em paradisíacos perímetros irrigados, hoje dominados pelos ricos, enquanto no entorno a miséria e a indignidade humana se expandem, de forma perversa. É um desafio para os administradores atuais e futuros.
(*) Raimundo Marinho é jornalista e editor de "O mandacaru"
|